Diário do Mercado - 5ª feira, 19.01.2017
À espera de Trump
Resumo do dia
À medida que se aproxima o dia 20 de janeiro, data da transição governamental Obama -Trump, crescem as dúvidas dos agentes quanto aos rumos da maior economia do planeta, na esteira de discursos ainda nebulosos por parte do presidente republicano eleito.
No Brasil, dados inflacionários favoráveis seguiram dando o tom de otimismo quanto à continuidade do ciclo de afrouxamento monetário brasileiro, que movimentou sobretudo o mercado de juros. A quinta -feira também marcou a terceira intervenção consecutiva do Bacen no mercado de câmbio.
Mercado de Ações.
As crescentes ansiedades com a posse de Trump na presidência norte -americana prevaleceu sobre o positivo dado interno de inflação do IPCA -15. Assim, após a abertura dos mercados acionários em Nova York, que passaram a operar em baixa, o índice brasileiro entrou definitivamente em campo negativo, chegando a bater na mínima do dia na hora final dos negócios.
A Vale, que andou sendo preponderante nas recentes altas, esteve sensível ao preço do minério de ferro e contribuiu negativamente , na esteira do recuo da commodity na China.
Já as performances positivas do índice ficaram por conta do setor de papel e celulose, com Fibria, Klabin e Suzano refletindo a elevação no preço da celulose na Ásia, Europa e América do Norte , a partir de fevereiro.
Ao término do pregão, o benchmark brasileiro fechou aos 63.950 pontos (-0,31%), acumulando 0,47% na semana, +6,18% no mês (e no ano) e 68,04% em 12 meses .
O giro financeiro da Bovespa foi de R$ 6,95 bilhões, sendo o volume do mercado à vista de R$ 6,73 bilhões.
Agenda Econômica.
Domesticamente, a inflação medida pelo IPCA-15 (IBGE) variou +0,31% em janeiro. Apesar de acelerar ante os +0,19% registrados em dezembro – o que já era esperado dada a sazonalidade, o dado veio abaixo das expectativas (consenso: +0,38%) e marcou a menor leitura para um mês de janeiro desde 1994 (início do plano Real).
No acumulado anual, a inflação ao consumidor arrefeceu para +5,94% (ante +6,58% em dezembro), patamar não visto desde março de 2014, quando a inflação anual estava em +5,90%.
Em nossa visão, o indicador traz ainda mais segurança à auspiciosa decisão do corte de 75 pontos-base na Selic pelo Copom na semana passada, ao evidenciar a efetiva descompressão dos preços ao varejo e permitir, no horizonte projetivo relevante para a autoridade monetária, a “ancoragem” das expectativas inflacionárias.
A nosso ver, o IPCA acumulado em 12 meses estará abaixo do centro da meta no segundo trimestre deste ano. Assim, cada vez mais se solidificarão apostas em relação a continuidade do atual ciclo de abrandamento monetário pelo Bacen, bem como a aceleração da magnitude dos cortes da taxa Selic, com a consequente visão do atingimento da meta de inflação estipulada para 2017, em 4,5%.
Também no âmbito inflacionário, a segunda prévia do IGP -M (FGV) de janeiro mediu uma variação de +0,76% na margem mensal ante dezembro. De maneira análoga ao IPCA-15, o índice acelerou frente ao mês anterior(+0,41, mas, veio aquém das projeções (consenso:+0,91%).
Na decomposição do indicador, seus três subitens assim oscilaram ante a segunda prévia do mês anterior: o IPA-M (atacado) em +0,91%, ante 0,53%; o IPC-M (varejo) em +0,57%, versus +0,12%; e o INCC-M em +0,24%, contra 0,32%.
Sem surpresas, na Zona do Euro, o Banco Central Europeu manteve a taxa de juros de refinanciamento em 0%. Em meio a uma atividade econômica ainda em lento processo de desaceleração e sem criação de convincentes pressões inflacionárias, a autoridade monetária conta com pouco espaço de manobra para interromper o 0 atual ciclo de estímulos.
Juros.
Impactados pelo IPCA -15, que reforçou a visão de um cenário inflacionário em franca disseminação, foram verificados recuos ao longo de toda a curva da estrutura a termo da taxa de juros. O movimento denota um aumento das apostas dos investidores em um ciclo de cortes da Selic cada vez mais encorpado.
Dólar e CDS.
A sessão foi marcada por nova operação de swap cambial pelo Bacen, desta vez ainda mais vultosa, com a rolagem de mais 15 mil contratos para fevereiro, o que ajudou a firmar a desvalorização da moeda norte -americana ante o real.
A divisa encerrou cotada a R$3,2060 (-0,53%), acumulando -0,34% na semana, -1,41 % no mês (e no ano) e -21,02% m 12 meses. O CDS (Credit Default Swap) brasileiro de 5 anos (CBIN) fechou em 256 pts, ante 254 pts na véspera.
Confira no anexo a íntegra do relatório de análise do comportamento do mercado na 5ª feira, 19.01.2017, elaborado por HAMILTON MOREIRA ALVES, CNPI - T, e RAFAEL REIS, CNPI - P, ambos do BB Investimentos.